Falhas na utilização do VAR refletem a desorganização do futebol brasileiro
Jogos sem torcida, baixo nível técnico das equipes e erros constantes de arbitragem marcaram o Campeonato Brasileiro de Futebol de 2020, cuja última rodada aconteceu no dia 25 de fevereiro de 2021. O sistema eletrônico de apoio à arbitragem, conhecido pela sigla VAR (em inglês, Video Assistant Referee), criado com o objetivo de ajudar o árbitro central, no campo de jogo, a tomar decisão em lances considerados duvidosos, virou o centro da controvérsia sobre a validade na utilização do sistema.
Implantado pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) na Copa da Rússia, em 2018, o sistema é formado por uma equipe de árbitros e ex-árbitros de futebol. Eles ficam em uma central de vídeo fora do estádio acompanhando por vários monitores de TV toda partida. A equipe conta também com o auxílio de técnicos em vídeos que escolhem os melhores ângulos do lance duvidoso para o replay da jogada. Em uma das margens do gramado, o árbitro principal poderá rever o lance em um monitor de TV e tomar a sua decisão.
O problema não está na existência do VAR, mas nos operadores da ferramenta, a começar pelos apitadores, que são amadores, seguindo pela Comissão de Arbitragem e a própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que organiza a modalidade no país. Portanto, as decisões polêmicas e a confusão que resultam dos erros de arbitragem não podem ser atribuídos exclusivamente ao VAR.
ATUALIZAÇÃO DO PROTOCOLO DO VAR
Renata Ruel, ex-árbitra e comentarista nos canais ESPN, diz não ter dúvidas de que o protocolo do VAR vai passar por alterações. Como está sendo implementado agora, o uso pode ser ajustado. O protocolo será ajustado constantemente, assim como as regras do jogo.
"Vejo o VAR como um auxílio que já faz parte da realidade. Agora, temos que investir no preparo e instrução dos árbitros", opina a ex-árbitra, que considera o VAR uma ferramenta necessária em um mundo em permanente evolução e atualização através da tecnologia.
No entanto, a presença dessa ferramenta de apoio tem condicionado os árbitros de campo a não assumir decisões pontuais dentro das quatro linhas e transferido a responsabilidade para a cabine do VAR, cuja função é assessória. Quando o VAR recomenda uma revisão, o árbitro de campo acaba sugestionado a mudar sua decisão.
DEPENDÊNCIA DA ESTRUTURA
Outro complicador está na dependência dos árbitros das federações regionais e da CBF, que escalam os profissionais para apitar as partidas. Diferentemente do que ocorria no passado, os sindicatos de árbitros não influírem na indicação de juízes para atuar em certames oficiais e tampouco para compor a Comissão de Arbitragem da CBF.
Embora a profissionalização da arbitragem brasileira responda à necessidade preparação permanente dos apitadores, que atuariam com maior segurança dentro das quatro linhas, a questão de fundo está na organização caótica do futebol profissional.
A prevalência do atraso na gestão dos clubes, os calendários repletos de jogos e a desvalorização da arbitragem compõem um quadro difícil de ser superado. Tais problemas afetam os clubes da elite, que empregam uma fração minúscula de jogadores, e à maioria clubes, que funcionam em condições precárias e pouco proporcionam aos funcionários, atletas e administradores.
VAR NO CENTRO DA POLÊMICA
Presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, o ex-árbitro Leonardo Gaciba, foi duramente criticado após o caso envolvendo uma reunião com dirigentes do São Paulo e a troca do árbitro responsável pelo VAR na véspera do jogo do Tricolor paulista com o Grêmio, pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro, em outubro de 2020.
O episódio provocou a indignação de dirigentes do Tricolor gaúcho e do Atlético Mineiro, que cobraram a saída de Gaciba do comando da arbitragem da CBF. A diretoria gremista levantou suspeitas sobre o encontro com o São Paulo e pediu a impugnação da partida, que terminou empatada sem gols. Na segunda partida entre os clubes, em 16 de fevereiro de 2021, o desempenho do árbitro Paulo Roberto Alves Júnior (PR) foi considerado ruim, em termos técnicos e disciplinares.
Novidade no futebol brasileiro, o VAR já é utilizado desde a década de 1980 na NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos. Lá, todas as jogadas de pontuação, duvidosas ou não, são revisadas no vídeo. Além disso, os árbitros podem tirar a dúvida em outros lances, como aqueles em que a posse de bola muda de time ou para saberem se a bola tocou ou não o chão antes que um jogador a agarrasse.
CARÊNCIA DE PROFISSIONALIZAÇÃO
Mas a falta de profissionalização da atividade explica a ocorrência do excesso de erros de arbitragem. A profissionalização dos árbitros requer dedicação exclusiva à função e uma preparação permanente no campo teórico e físico, a cargo dos sindicatos de classe, que deveriam ser independentes. A qualidade da arbitragem virá somente quando o árbitro não for mais obrigado a atuar em outra atividade, como acontece atualmente”.
Os árbitros de elite, que chegam a apitar dois jogos por semana e praticamente vivem do apito, pois viajam constantemente e não podem desempenhar outra atividade. Já os árbitros que atuam em categorias de base precisam trabalhar além dos jogos organizados pelas federações para complementar a renda. Muitos vão para o futebol amador e atuam em torneios da várzea, em busca de dinheiro extra.
Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)
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