André Santos*
O governo do Presidente Jair Bolsonaro tem enfrentado o seu pior momento e corre o risco real de ter um, dos 124 pedidos de impeachment, aceitos pela Câmara dos Deputados. O número de pedido é recorde na Casa. A vulnerabilidade do governo se agravou desde o depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da COVID) no Senado Federal que ouviu o deputado Luiz Miranda (DEM-DF) e seu irmão Luiz Ricardo, servidor do Ministério da Saúde. Ambos relataram à CPI possíveis desvios de conduta de atores do governo na compra de vacinas coordenadas pela pasta.
Entre os relatos dos irmãos Miranda, houve a citação do líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que teria envolvimento na compra superfaturada de vacinas. O deputado, que soma mais de 20 anos na Casa integrou a base aliada de Fernando Henrique Cardoso, Luis Inácio Lula da Silva e Michel Temer, quando foi ministro da Saúde.
Mesmo a saída do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não foi capaz de acalmar os ânimos da oposição, que entregou, no dia 30/06, mais um pedido de impedimento do presidente com mais de duas dezenas de supostos crimes cometidos por Bolsonaro na presidência.
O ato contou com apoio de várias entidades sindicais, organizações da sociedade civil e parlamentares de diferentes partidos, além de ex-aliados do presidente, como o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) e a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).
CENTRÃO
Jogado à sorte, Bolsonaro conta ainda com uma “base de parlamentares” na Câmara. O número passa de 300 deputados, porém, essa suposta base está condicionada a vários fatores. Entre eles a distribuição de cargos, de emendas (recursos para as bases dos deputados) e de apoio popular do presidente, que vem sofrendo sucessivas quedas. Sem apoio nas ruas, deputados temem grudar sua imagem ao presidente e comprometer suas possíveis reeleições nas bases eleitorais.
O chamado “centrão”, reunião de partidos políticos de diferentes siglas sem uma linha ideológica definida é seu principal escudo na Casa, mas pode sofrer baixas caso as demandas do grupo não sejam atendidas. Na situação atual, o preço de apoio político vai sendo superfaturado e é possível que não se tenha viabilidade para atender as demandas.
Ou seja, os ingredientes do impeachment estão quase todos na panela. Falta de apoio popular, desgaste político, falta de recursos para atender demandas da base nas Casas legislativas e chuva de escândalos. Falta apenas o seu principal aliado, o deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, pautar um dos pedidos no plenário da Casa.
(*) Jornalista, analista político, é especialista em Política e Representação Parlamentar e assessor técnico licenciado do Diap e sócio-diretor da Contatos Assessoria Política.
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