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Presença de imigrantes no Brasil: os espanhóis em Porto Alegre (I)

As grandes levas migratórias só vão ocorrer às vésperas da Proclamação da República, quando grandes contingentes de italianos, portugueses e espanhóis entram no país

26/06/2021 às 12h37 Atualizada em 26/06/2021 às 13h07
Por: Renato Ilha Fonte: “Espanhóis no Sul do Brasil: Diversidade e Identidade” | Regina Weber
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Marcas da cultura espanhola em Porto Alegre
Marcas da cultura espanhola em Porto Alegre

A presença dos espanhóis no Sul do Brasil remonta aos primórdios do povoamento, havendo autores que argumentam que os espanhóis têm papel tão importante quanto os portugueses na ocupação da região, zona de limites indefinidos entre a América portuguesa e a América espanhola até o início do século XIX. A permissão para o acesso dos estrangeiros à propriedade da terra ocorreu um pouco antes da independência, com a presença da família real no Brasil, em 1808, justamente visando atrair europeus.

No período Imperial, em meados do século XIX, a colônia passa para a responsabilidade dos governos provinciais, o que também abre oportunidade para a iniciativa privada, pois existiam as colônias oficiais e as colônias fundadas por companhias de colonização, contexto que favoreceu a imigração alemã para o Sul do país.

Contudo, as grandes levas migratórias só vão ocorrer às vésperas da Proclamação da República, quando grandes contingentes de italianos, portugueses e espanhóis entram no país, principalmente no Estado de São Paulo. Não apenas a abolição da escravidão e a instalação do regime republicano no Brasil incentivaram a imigração, mas melhores meios de transporte e comunicação fomentam grandes fluxos migratórios para a América.

No Brasil, houve a imigração de trabalhadores que precisavam ser atraídos com subsídios, para fazer face à concorrência dos mercados de trabalho da Argentina e da América do Norte, com melhores escalas salariais.

VISIBILIDADE CULTURAL

A despeito do papel dos antigos habitantes do território, já no censo de 1920 os espanhóis aparecem ocupando apenas a oitava posição dentre os estrangeiros presentes no Rio Grande do Sul, com menores contingentes que outros grupos, compostos por italianos, alemães, poloneses, russos, portugueses, uruguaios e argentinos.

Como a visibilidade de um grupo étnico não é vista apenas pela expressão numérica, mas pela capacidade de publicizar comportamentos e manifestações étnicos na sociedade local, no Rio Grande do Sul, em meados do século XX, noticiar comemorações e festividades era um procedimento comum a várias entidades étnicas, entre estas a Sociedade Espanhola, cujo prédio social foi inaugurado em 1929. A demonstração de apreço à terra de acolhida também se manifesta através da incorporação de festejos de datas nacionais, em anos marcados por ideologias nacionalistas no Brasil.

Entre os 47 signatários do documento que funda Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos de Porto Alegre, em 1893, quase metade deles pode ser identificada como artesãos: seis carpinteiros, quatro sapateiros, três alfaiates, dois marceneiros, dois artistas, dois tipógrafos, além de um padeiro, um ferreiro, um barbeiro e um pintor. Havia ainda dez ocupados “com comércio” e cinco “com indústria”, sem definição clara da atividade.

A CONSTRUÇÃO DE PORTO ALEGRE

Atividades que concentraram imigrantes espanhóis entre os trabalhadores que atuaram na capital gaúcha estavam ligadas ao setor de construção. Obras de pavimentação e alargamento das ruas de Porto Alegre, iniciadas em 1913, trouxeram à cidade muitos trabalhadores de outras regiões do país, mas também de outros países, particularmente de Portugal e Espanha.

Na greve de março de 1917, contra a empresa de calçamento, desencadeada pelo Sindicato dos Canteiros, Calceteiros e Classes Anexas, fundado no ano anterior, ficou visível a proeminência dos trabalhadores espanhóis na categoria, notadas pela tensão existente entre estes e os trabalhadores nacionais.

OS “SÓCIOS PROTETORES”

Além de trabalhadores braçais qualificados, artesãos e profissionais com conhecimentos técnicos especializados, havia em Porto Alegre imigrantes que prescindiam de qualquer organização operária ou mutualista para garantir boas condições de sobrevivência na nova terra. A Sociedade de Socorros Mútuos criou a categoria de “sócios protetores”, definida pelo estatuto de 1909, como aqueles que “renunciassem espontaneamente a todos os auxílios da Associação, exceto ao lugar póstumo.

A policlínica, que funcionou entre 1936 e 1950, era dirigida e contava com os serviços médicos de alguns imigrantes espanhóis que compõem, com engenheiros, advogados, industriais, artistas e intelectuais, uma listagem de “espanhóis ilustres”.

ESPANHÓIS BENEMÉRITOS

A geração de imigrantes espanhóis do final do século XIX foi favorecida pela ação de personagens como o hispano-brasileiro Ignácio Montanha, fundador da Escola Brasileira, em 1890, educandário “frequentado por meninos das mais ilustres famílias da capital e do interior”.

Montanha consta como sócio benemérito da Socorros Mútuos, já na segunda década do século XX, em virtude da preocupação dele com o ensino do espanhol para filhos dos imigrantes. Muitos de seus alunos tornaram-se jornalistas, deputados e governadores, inclusive o futuro presidente Getulio Vargas.

Mas foi o arquiteto Fernando Corona o mais destacado entre os imigrantes espanhóis, que ocupou lugar de projeção na arquitetura do Sul do país. Escritor e orador influente, era reconhecido pelos emigrados e falava em nome dos espanhóis sul-rio-grandenses. Na década de 1920, Corona realizou, gratuitamente, o projeto para a sede social da Sociedade de Socorros Mútuos de Porto Alegre, tendo esculpido a bela fachada do edifício.

A FONTE DE TALAVERA

Nas comemorações do centenário da Revolução Farroupilha, em 1935, quando a comunidade espanhola entrega à cidade de Porto Alegre a Fonte de Talavera, belo monumento instalado diante do Paço Municipal, onde ergue-se o imponente prédio da Prefeitura Municipal da capital. Atuando como orador, Corona pronunciou o “discurso de agradecimento ao povo gaúcho”, em nome da colônia espanhola. Também promoveu as restaurações que se fizeram necessárias posteriormente.

Na década de 1970, quando os espanhóis porto-alegrenses ainda se encontravam divididos, em função dos acontecimentos dos anos 30, Corona executou o projeto da Casa da Espanha, entidade que agregou dissidentes da Sociedade de Socorros Mútuos, desde a década de 1950.

Informações extraídas de “Espanhóis no Sul do Brasil: Diversidade e Identidade” | Regina Weber

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