O Seminário de Formação e Organização para a Negociação da Reestruturação Produtiva foi promovido pela IndustriALL-Brasil, entre os dias 28 e 29 de maio de 2025, em Belo Horizonte. Criada em novembro de 2020 pelas duas maiores centrais sindicais brasileiras - Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical -, representam mais de 10 milhões de trabalhadores na indústria, entre Metalúrgicos, Químicos, Texteis e trabalhadores na Construção Civil, Alimentação e Energia. A entidade inspirada na IndustriALL Global Union, que representa 50 milhões de trabalhadores no mundo. A InsdustriALL-Brasil atua em parceria com universidades, instituições científicas e com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), um instituto de pesquisa, assessoria e educação do movimento sindical brasileiro.
Também chamada de “capitalismo flexível”, a Reestruturação Produtiva tem início na segunda metade do século XX e corresponde ao processo de flexibilização do trabalho na cadeia produtiva, o que provoca aumento do desemprego estrutural, precarização das relações de trabalho, ampliação da oferta de empregos intermitentes, em tempo parcial, temporários, instáveis e sem acesso aos direitos que próprios aos empregos estáveis.
Na busca contínua por eficiência e produtividade as indústrias contratam funcionários apenas em épocas de grande demanda na produção e demitem quando não houver mais necessidade de produzir mercadorias em grandes quantidades.
A Reestruturação Produtiva faz crescer a informalidade, diminui a qualidade dos postos de trabalho e reduz os rendimentos médios. O Êxodo dos Trabalhadores para a Informalidade foi tema de um dos cinco grupos entre os participantes do Seminário.
DINÂMICA DE GRUPO
As redes de cooperação surgem como alternativa promissora para o futuro do sindicalismo. Um dos temas abordados no encontro - a Política de Redes Sindicais -, foi apresentada como uma das formas de criar e incentivar a solidariedade entre os trabalhadores que sofrem com os mesmos danos do processo de ajuste estrutural.
As Redes podem constituir um modo organizado de resistência ao efeito nocivo da “globalização econômica” e ao poder das multinacionais, por ressaltar a necessidade crescente de ações conjuntas entre as entidades sindicais.
Outro ponto envolvente no debate, Conceitos Básicos de Planejamento e a Construção do Plano de Ação Sindical demonstrou o valor de um projeto estruturado como ferramenta para organizar a atuação das entidades sindicais no processo para o alcance das metas.
Sociólogo, Educador Popular e Consultor Sindical, Rafael Serrao argumentou sobre a importância do empenho no encaminhamento do plano de ação, visto que o fortalecimento da organização sindical é vital para no momento das negociações que limitem o alcance dos processos de ligações de empresas.
Também indagou sobre como devolver aos sindicatos a condição de protagonistas na organização social brasileira. Como disse, é preciso pensar e planejar as próximas décadas, considerando a fragilidade causada pela reforma trabalhista, que reduziu a capacidade de arrecadação das entidades sindicais e desmontou estruturas que mobilizavam as categorias profissionais.
EXEMPLOS SIMPLES, MAS PRÁTICOS
O especialista citou exemplos de uma feira que acontece em Florianópolis e da qual participa como organizador. Num ambiente em que são comercializados produtos agroecológicos e orgânicos é produzido um clima de convívio que não existia até então. Naquela feira são organizadas rodas de conversa, projeção de filmes e promoção de atividades para crianças, que vão além de atividades de cunho meramente recreativo.
Agindo assim o sindicato traz ao ambiente temas de interesse do trabalhador, contribuindo para reforças os laços existentes entre a categoria e a entidade representativa.
A estrutura da entidade sindical passa a ser utilizada como elemento de consciência dos trabalhadores e de suas famílias, ao mesmo tempo em que dá força à economia solidária. Na prática, sindicato e trabalhadores saem fortalecidos com essa interação.
Também as igrejas são espaços que reúnem as famílias. Citando o próprio exemplo, Rafael passou a frequentar esse ambiente porque seu sogro é pastor evangélico de uma igreja com tendência progressista. Casos semelhantes são encontrados nas igrejas luteranas de Santa Catarina, que conseguem congregar as famílias em atividades diversas, indo além da pauta religiosa.
CONTINUIDADE
O destaque para a capacidade do grupo de superar dificuldades, como a distância, abriu a fala de Vandeir Messias, um dos Coordenadores do Seminário da IndustriALL-Brasil. O sindicalista ainda ressaltou a capacidade dos participantes de projetar uma perspectiva de continuidade, a partir do entendimento de que é preciso agir de forma concatenada.
“Só assim poderemos reinventar o movimento sindical e conseguir reunir e preparar dirigentes e trabalhadores, dentro de um processo de planejamento e organização, educação e transmissão de conhecimento”, afirmou.
Para ele, esta é uma oportunidade para superar um estágio de prostração frente a uma realidade criada após a vigência da chamada reforma trabalhista, que enfraqueceu sindicatos e retirou direitos até então consagrados na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)
RECUPERAR O PROTAGONISMO POLÍTICO
Para Messias, os sindicatos precisam recuperar o protagonismo político perdido e voltar a influenciar as políticas públicas e sociais com as propostas da pauta trabalhista, assim como as bancadas dos partidos políticos.
E para atuar como braço de força na legislação será necessário agir junto aos pontos de equilíbrio da sociedade civil. “O Brasil ainda sobrevive por deter grandes fundos, como a Previdência Social e o Fundo de Garantia (FGTS), que atuam nas questões de moradia e crédito consignado”, analisou o presidente da Força Minas.
Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300
Mín. 12° Máx. 23°