Ao declarar que “não há Fundacentro sem o trabalhador e o movimento sindical” e que esta é “a grande missão para ocupar esse espaço e ajudar a Fundação a cumprir o seu papel histórico”, o presidente nacional da Fundacentro, Pedro Tourinho, deixou claro aos presentes no auditório da entidade, em Belo Horizonte, que falava de um momento de reconstrução. Partindo de um panorama do que aconteceu com a Fundação, uma instituição fundada em meio à ditadura militar, Tourinho mostrou porque a Fundacentro deu nascimento à disciplina de Segurança no Trabalho no Brasil. O presidente da Fundacentro descerrou placa na sede da entidade, em 30 de maio de 2025, na capital mineira.
Pedro Tourinho (E) palestra no auditório da Fundacentro, em Belo Horizonte, ao lado da deputada federal Ana Pimentel (PT-MG) e Gilson Reis, Coordenador de Projetos da Fundação em Minas Gerais
Ao fazer um resgate histórico, Tourinho pontuou que, ao longo de sua evolução, a instituição passou por um processo de transição na maneira como se relacionava com a própria missão de promoção de ambientes de trabalho seguros, e, posteriormente, saudáveis. Explicou que, durante muito tempo, a discussão girava em torno do chamado “ato inseguro”, cujo foco era a responsabilização individual dos trabalhadores.
"Com o tempo - felizmente -, a Fundacentro foi amadurecendo outras disciplinas: a ergonomia hoje desempenha papel muito importante e a discussão da higiene ocupacional, a partir de um compreensão mais ajustada das questões organizacionais e que incidem nas relações de trabalho, dentro da lógica da relação Capital/Trabalho e a destinação dos recursos financeiros", assinalou Pedro Tourinho.
A placa que simboliza a retomada de uma tradição que remonta o ano de 1966
PROJETO DE PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR (A)
Neste sentido, a Fundacentro avança como um projeto de proteção à saúde do trabalhador brasileiro e que, portanto, tensiona todas as formas de precarização e aviltamento de todas as condições de vida dos trabalhadores.
A agenda da Saúde e Segurança no Trabalho é das poucas agendas que não foi inteiramente “atropelada” pelas ondas “neoliberal” e “ultraliberal” que vieram integraram a Agenda Temer/Bolsonaro. Mesmo entre aqueles que falam “Sou liberal, não quero CLT” não podem negar que as pessoas estão morrendo precocemente, com doenças osteomusculares, praticando suicídio, e involuindo com Burnout (síndrome do esgotamento profissional, que é um estado de exaustão física, emocional e mental devido ao estresse frequente relacionado ao trabalho) é possível tensionar mesmo aquelas pessoas mais frágeis moralmente. Portanto, esta agenda é um polo de resistência basilar da luta dos trabalhadores e trabalhadoras.
O desmonte da Fundacentro não foi casual nos governos Temer e Bolsonaro e não foi literalmente fechada por ser uma fundação capilar no país, que possui unidades em Belém, no Pará; Recife, Salvador, Vitória/ES, Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Campinas, São Paulo, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre.
José Alves Paixão, da UGT, Vandeir Messias, da Força Sindical, diante da placa descerrada por Tourinho, que aparece ao lado de Gilson Reis, Coordenador de Projetos da Fundacentro em Minas
AGENDA ESTRATÉGICA DE RECONSTRUÇÃO
O presidente nacional explicou que a agenda estratégica de reconstrução da Fundação, iniciada em desde 2023, com o Ministro do Trabalho e Emprego (MTE), Luiz Marinho, procura recuperar a incidência dos principais problemas da saúde dos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil hoje e atualizar o escopo da abordagem de saúde e segurança, incluindo o diálogo com universos que tradicionalmente não estão abarcados pela estruturas sindicais e da CLT.
"As principais iniciativas nesse processo de reconstrução procuram responder como podemos dialogar mais amplamente com a tese do Trabalho Decente", disse. "Desde 2023, recuperamos a oferta do Curso Básico de Saúde e Segurança no Trabalho, já sendo capazes de formar milhares de técnicos. O curso reapresenta os fundamentos de Saúde e Segurança no Trabalho e que, por isso, temos estimulado as direções sindicais a cursá-lo, por expor uma apresentação completa do que é o universo das políticas de proteção à SST, CIPA, negociação coletiva, Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Renastt), explicou Tourinho.
EM BOAS MÃOS, EM MINAS
A chegada de Gilson Reis à Fundacentro é vista com bons olhos pelo sindicalismo, pela possibilidade de renovação e de retomada de uma tradição que começa em 1966, quando a Fundação Centro Nacional de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho foi criada, durante o Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes, realizado em São Paulo. A entidade nasceu da lei n° 5.161, de 21 de Outubro de 1966, motivada pelos altos índices de acidentes e doenças do trabalho que ocorriam na época.
Vereador de Belo Horizonte por dois mandatos, de 2013 a 2020, e Coordenador-Geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (CONTEE), entre 2016 e 2025 e Presidente do Sindicato dos Professores de Minas Gerais (SINPRO Minas), entre 2005 e 2014, Gilson Reis é o Coordenador de Projetos da Fundacentro, que concentra experiência e trânsito para dialogar com entidades sindicais e empresariais, dentro do processo de reconstrução da Fundação.
Sindicalistas de diversos ramos de atividade compareceram ao ato simbólico de reativação da Fundacentro em Minas
PIONEIRISMO FORMADOR
A Fundacentro foi responsável pela formação dos primeiros Engenheiros, Técnicos de Segurança do Trabalho, Enfermeiros e Auxiliares de Enfermagem do Trabalho formados no Brasil. Principal órgão de pesquisa em saúde e segurança do trabalho no Brasil, a pesquisa produzida pela Fundacentro torna-se um norte para ações de Segurança e Saúde do Trabalho pelas empresas brasileiras.
Além da pesquisa, a Fundacentro está à frente de ações educativas, através de cursos, seminários, palestras, produção de material didático e de publicações científicas e informativas. Também presta serviços à comunidade e a órgãos públicos e privados, por meio de um corpo técnico altamente qualificado.
Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)