O movimento "Vida Além do Trabalho" (VAT) surge da indignação de um trabalhador questionando a Esclala 6x1. Rick Azevedo, hoje vereador na cidade do Rio de Janeiro, grava um vídeo manifestando sua indignação por ser um funcionário que trabalhava nesse regime, o que acaba por desencadear uma mobilização que dá origem ao VAT, um movimento social que se articula em relação à escala de trabalho, mas reivindica melhores condições de vida, a partir da relação com o trabalho.
O presidente do Sindicato dos Comerciários de Belo Horizonte e Região (SECBHR), João Periard, recebeu o Coordenador Estadual do VAT em Minas Gerais, Lucas Sidrach, para conversar sobre a proposta inovadora do movimento. No encontro, realizado em 24 de janeiro, participaram José Alves Paixão, Vice-Presidente da entidade; Everton Ferreira, Secretário-Geral, além de Felipe Santiago, Organizador Sindical.
FIM DA ESCLA 6X1
Num primeiro momento, o movimento entende a necessidade de discutir o fim da Escala 6x1, "porque ela não permite que as pessoas tenham uma vida de fato", declarou Sidrach. "Ao falar dessa escala, falamos dos Comerciários que trabalham nos centros urbanos, nos shoppings e das realidades dos mais diferentes setores. E concluímos que não é possível haver uma boa entrega no campo profissional se a pessoa não descansa de maneira correta; se não tem tempo para o estudo e, principalmente, se não encontra tempo para dedicar aos seus familiares e amigos, pois não faz aquilo que lhe dá prazer", completou o ativista.
Partindo do fato de que a vida vai além de atos como ir ao trabalho, bater o ponto, atuar no local de trabalho e depois voltar para casa, é preciso abrir espaço para ir a cultos, interagir com os filhos, com os pais e a família. Hoje, o VAT articula em níveis municipal, estadual e federal diferentes formas de abordar essa escala, conversando com o trabalhador, debatendo com o Legislativo e as prefeituras, para que tenhamos de fato escalas de trabalho que compreendam as necessidades das pessoas.
"PEC DA FAMÍLIA"
O VAT apoia a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de autoria da deputada federal Erica Hilton (PSOL-SP), que pretende proibir essa escala, pois considera que este regime de trabalho consome a alma do trabalhador e da trabalhadora, ao impedir que que as pessoas possam desenvolver-se de maneira plena e digna. A emenda à Constituição sugere a substituição da escala 6x1 por uma escala 4x3, com redução da jornada semanal para 36 horas e debate o impacto da medida na qualidade de vida dos trabalhadores.
A PEC reflete uma antiga reivindicação trabalhista, sendo movida por mecanismos participativos, como a petição pública online do Movimento "Vida Além do Trabalho" (VAT) | acesse a petição online |, em que quase 800 mil brasileiros e brasileiras cobram do Congresso Nacional o fim da jornada 6x1 e adoção da jornada de trabalho de 4 dias na semana.
MENOS VIDA E MAIS TRABALHO - As vítimas da escala 6x1 não são exclusivamente o trabalhador. Também é o filho que perdeu o horário da escola, o casamento que vai sendo arruinado porque as pessoas não conseguem estar em em casa para a devida atenção ao seu par e, sobretudo, à família, que mais sente a ausência do trabalhador submetido a essa escala cruel.
A escala 6x1 é um modelo de jornada de trabalho de seis dias consecutivos com o descanso no sétimo, respeitado o limite de 44 horas semanais e 8 horas diárias estabelecido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Os trabalhadores nessa escala têm direitos assegurados, como folga semanal, intervalos intrajornada e interjornada, remuneração por horas extras e adicionais específicos, como noturno, periculosidade e insalubridade.
VIDA DEDICADA AO TRABALHO
Os sindicalistas observaram que o trabalhador fica à disposição a partir do momento em que ele acorda em horário já predeterminado para o deslocamento até o trabalho, que o obriga a utilizar dois ônibus ou um ônibus e o metrô, por exemplo, repetindo a mesma via crucis para retornar para a casa, o que faz com ele fique à disposição da empresa por mais da metade do tempo de um dia inteiro.
A lógica em defender um processo de valorização das pessoas é clara: não são apenas as seis ou oito horas de trabalho que consomem o tempo das pessoas, mas o transporte precário e as condições de acesso deploráveis, com muita precariedade, atrasos e a caro, sem falar do trânsito propriamente dito. A superlotação retrata um transporte público sem qualidade, que faz com que a vida do trabalhador seja menos vida e mais trabalho. A desmotivação não afeta apenas o profissional, mas a própria vida dele.
Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)
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