Os bloqueios de rodovias registrados em diferentes estados brasileiros desde a noite de domingo ganharam força no dia seguinte. A mobilização começou a ser desfeita após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que mandou desobstruir as estradas, estabelecendo punições pelo descumprimento da ordem judicial. Conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os pontos de interdições, bloqueios ou manifestações em rodovias do País chegaram a 236, ainda em 31/10. A movimentação começou ainda na madrugada de segunda-feira, logo após a confirmação dos resultados da eleição presidencial.
Atendendo a pedido da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o ministro Alexandre de Moraes determinou que a PRF e as polícias militares dos estados tomassem ações imediatas para desobstrução de vias ocupadas ilegalmente. Foram estipulados multa e o afastamento do cargo para o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, em caso de descumprimento. A maioria dos ministros confirmou a decisão na madrugada.
Ao longo da segunda (31/10), universidades e empresas de transporte gaúchas suspenderam ou alteraram o funcionamento de atividades devido aos bloqueios, assim como o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER) autorizou as empresas de ônibus a cancelar ou remarcar viagens.
"SILÊNCIO SEPULCRAL"
A Polícia Federal passou a investigar a possibilidade de locaute, quando a paralisação parte dos empresários, como o caso envolvendo um dono de transportadora em Santa Catarina, que por meio de vídeo, convoca os protestos para “livrar o Brasil da ameaça comunista”. Outros vídeos sugerem que haja complacência de agentes da PRF com os manifestantes.
Enquanto Eduardo Leite, reeleito governador do estado gaúcho defendia que as forças policiais liberassem as estradas, o deputado federal mais votado no Rio Grande do Sul, tenente coronel Zucco (PL), dizia que “a guerra não se vence com retiradas”, conforme postagem feita na noite de 31/10.
O parlamentar e os brasileiros esperam por um pronunciamento de Jair Bolsonaro (PL), que mantém-se isolado sem qualquer manifestação sobre o sobre o resultado das eleições. Postura semelhante foi adotada pelo candidato Onyx Lorenzoni (PL), derrotado por Leite, que ficou em segundo lugar na apuração do primeiro turno. Diante do silêncio sepulcral do atual presidente, o vice Hamilton Mourão deu início ao diálogo com a chapa vencedora.
LENHA NA FOGUEIRA
A flexibilização da legislação para comercialização, aquisição e porte de armas de fogo por parte de civis, o que inclui a multiplicação de CACs (caçadores, atiradores desportivos e colecionadores de armas) e dos clubes de tiro, foi uma das promessas feitas por Jair Bolsonaro na campanha de 2018 que ele cumpriu durante o mandato como Presidente da República, como um dos pontos centrais da estratégia e ação política.
Dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) junto à Polícia Federal (PF) — responsável pela concessão dos portes de arma —, apontam um crescimento de 40% no número de novas permissões concedidos por ano, quando comparado o ano de 2021 com 2018. O bolsonarismo não só impulsionou decretos favoráveis à disseminação de armas de fogo nas mãos da população civil como também aproveitou brechas legais para alimentar certos setores, como os CACs e clubes de tiro.
Renato Ilha, jornalista (Fenaj 10.300)
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